Resumo dos capítulos anteriores:
Kizu, Paka, Lliane, Himaru e Reiko, acompanhados por Kakashi e Gai, partiram de Konoha na esperança de encontrar, junto de Orochimaru, a cura para Yuuji. Chegaram à fronteira guiados pelo selo de Kizu e encontram-se acampados no local, à espera do primeiro raio de sol para atacar.
***
-Kizu, acorda! - Chamou Lliane, ensonada.
-Mmmmf... grunf... - Resmungou Kizu. Dormir num saco-cama deixava-a sempre de mau humor.
Lliane olhou para ela maldosamente e abriu o fecho da tenda. Fez uma bolha com a água que derretia da neve e deixou-a cair mesmo em cima da companheira de tenda.
-Lli, eu juro que te mato!!! - Gritou Kizu, levantando-se de um pulo, com os olhos esbugalhados e mais molhada que um pinto saído do ovo.
-Desculpa lá, mas nunca pensei que fosses tão melga para acordar. E não grites, ainda é de noite!
Kizu olhou pela abertura da tenda e a sua expressão furiosa atingiu Lliane, que olhava para ela indiferente.
-Acabaste de me acordar antes da hora? - Rosnou ela. Depois olhou para o lado, para um saco-cama vazio. - Onde está a Reiko?
-Está lá fora com o lagartinho dela, vai ajudar-nos a encontrar o esconderijo! Anda! Ou queres que os sensei nos descubram?
Kizu matutou por um segundo e levantou-se do chão.
-É verdade. Não consigo estar aqui sem fazer nada, por muito arriscado que seja.
As duas raparigas saíram da tenda e juntaram-se a Reiko, que fizera Piripo farejar um trilho.
-Estava a ver que não era hoje - Disse a rapariga. - O Piripo encontrou qualquer coisa! Tenho a certeza de que estamos perto!
Kizu concentrou-se por um segundo no selo e acenou com a cabeça. O esconderijo não estaria a muitos metros de distância.
As três raparigas seguiram Piripo por um caminho estreito e tortuoso, tentando não fazer barulho.De repente, o lagarto embateu em algo que não foram capazes de ver com as suas lanternas.
-É um genjutsu. Há aqui qualquer coisa. - Constatou Reiko.- Kai!
-Como se um jutsu de libertação tão básico fosse funcionar com um genjutsu do Orochimaru... - Ironizou Kizu, fazendo uma expressão de cepticismo.
Algo parecido como um manto invisível desvaneceu-se lentamente, enquanto uma construção baixa, com a forma de uma meia esfera e com apenas uma porta estreita apareceu em frente das jovens.
-Pelos vistos ele quer ser encontrado. - Retaliou Reiko, olhando Kizu triunfantemente.
-Então... quem quer ir em primeiro? - Perguntou Kizu, arrepiada, e devolvendo a Reiko um olhar nada amistoso.
Lliane levantou a mão e sorriu.
-Vê e aprende como se invade um esconderijo do mal, Kizu!
Kizu e Reiko não conseguiram evitar um risinho. Lliane puxou as outras duas e avançou na direcção da porta. Criou uma senbon de água e tentou usá-la para abrir as trancas, mas a porta escancarou-se com um pequeno toque. As três entreolharam-se assustadas, enquanto à sua frente se estendia um corredor que parecia mais comprido do que o diâmetro do edifício. Num dos lados estava uma porta, iluminada por tochas.
-Parece-me um convite bastante claro. Eu vou à frente. - Disse Lliane.
Kizu colocou-lhe a mão no ombro e fitou-a nos olhos.
-Nem penses. Vamos as três juntas. Se fores apanhada sozinha numa armadilha não conseguimos fazer nada.
Reiko, atrás das duas, acenou com a cabeça.
-H-hai, não tinha pensado nisso - Lliane estremeceu e as três entraram pelo corredor.
-O que é que pensam que estão a fazer??? - A voz de um rapaz ouviu-se da entrada, quando chegaram perto da passagem, que ia dar a uma escadaria.
Paka encontrava-se à entrada, e Himaru, Kakashi e Gai estavam atrás dele.
Nenhuma delas proferiu uma palavra, envergonhadas.
-Podiam ter-se magoado. Porque não esperaram até de manhã? - Perguntou Kakashi.
Lliane corou.
-Foi ideia minha, eu bem vi como a Kizu se esteva a sentir mal durante o sono! Devíamos despachar isto! - Admitiu Reiko. - O irmão dela está a piorar a cada minuto, temos de ser rápidos!
Kizu levou a mão ao pescoço. De facto o seu selo ardia horrivelmente, mas tentara conter a dor.
-Ah, que compaixão tão linda! O poder da juventude é insuperável! - Gritava Gai, comovido.
-Gai-sensei, não é boa altura... - Começou Himaru, mas não teve coragem de acabar a frase. Se havia alguém incoveniente com as palavras era ele.
Todos olharam para Gai, embaraçados. Kakashi tossiu.
-Bem, acho que agora não faz muito sentido voltar atrás. Vamos todos entrar.
Juntaram-se às raparigas e desceram todos a escadaria, que parecia não acabar nunca. No fim, desembocaram numa sala redonda e ampla. No centro, Kabuto esperava por eles.
Kizu levou instintivamente as mãos à katana, esperando um ataque.
-Então... parece que finalmente chegaram. - Disse Kabuto, calmamente. Sabia que viriam.
-Estás a fazer
bluff, só pode. Não havia maneira de teres sabido que nós vínhamos. - Disse Paka, enervado.
Kabuto riu às gargalhadas.
-Eu não, mas Orochimaru-sama podia saber!!! Ainda não perceberam?
Kizu colocou a outra mão no punho da espada.
-Era isto que o Naruto queria dizer! Orochimaru está dentro dele, não morreu!
Todos olharam para ela, surpresos, menos Kakashi. Afinal, ele próprio já sabia disso.
Num acesso de raiva, Kizu correu na direcção de Kabuto com a katana bem segura nas duas mãos.
-Vou fazer-vos pagar ambos de uma vez!!!
Tentou atingi-lo desprevenido, mas Kabuto desviou-se e Kizu caiu no chão.
-Kizu! Não! - Gritou Himaru. - Precisamos dele, lembras-te?
-Conveniente como sempre. Agora ele sabe que não o podemos magoar.- Sussurrou-lhe Lliane.
Himaru cobriu a boca com as mãos.
"Porque é que só falo quando não devia?", pensou ele, angustiado.
Lliane reparou que ele tinha o único olho descoberto completamente esbugalhado e colocou-lhe a mão no ombro.
-Deixa lá. Podia ter sido pior.
Himaru pensou que aquela frase não servia de grande ajuda, mas sentiu-se mais confortado.
Kizu recuou com um salto ágil e voltou a embainhar a katana. Estava muito direita e tensa e parecia tremer um pouco, mas nunca o admitiria. Para ela, salvar Yuuji era a prioridade, mas aquela sítio e aquela pessoa causavam-lhe arrepios de morte. O seu instinto dizia-lhe para atacar, mas Himaru tinha razão.
-Precisam de mim, hum? E porque é que eu vos ajudaria? - Disse Kabuto maliciosamente.
-Pela mesma razão que me ajudaste antes enviando aquela serpente mensageira, talvez? - Disse Paka, fitando Kabuto desafiadoramente.
-Oh, então sempre chegou ao destino? - Ripostou o arauto de Orochimaru, que parecia divertido.
-Paka-kun, de que é que estás a falar? - Perguntou Kizu, voltando-se para trás e olhando para ele.
-Não importa agora... vocês vão fazer o que eu quero, afinal já me vão ficar a dever dois favores... - Disse rispidamente Kabuto.
Kakashi e Gai observavam tudo em posição de defesa, prontos a proteger os gennins caso houvesse necessidade disso.
-Então chuta aí, quatro-olhos. Não temos tempo para isto. - Disse Kizu, voltando a levar as mãos à bainha da espada.
-Kizu! - Reiko e Lliane estavam chocadas. Nunca a tinham visto desafiar alguém daquela maneira, apesar de saberem que Kizu não era propriamente uma rapariga educada. Paka, Himaru, Kakashi e Gai também ficaram sem palavras. Temiam pela reacção de Kabuto, mas este nem se preocupou em atacar.
-Preciso de amostras de sangue para levar a cabo mais experiências. SANGUE SELADO. - Pronunciou estas duas últimas palavras num tom que não dava margem para dúvidas.
Kizu entendeu logo o que aquilo significava. As experiências no seu corpo tinham sido mais que muitas, e agora era a altura de compreender como é que ela tinha sobrevivido tanto tempo. Ela própria estava curiosa, havia coisas que nunca compreendera desde que recuperara grande parte da sua memória.
-Seja. Mas primeiro dá-nos o que nós queremos. - Respondeu, tentando parecer calma. O tempo estava a esgotar-se para Yuuji a cada minuto que passavam a discutir. - Eu fico aqui até acabarem as análises e eles levam o que precisamos.
-Não sei o que vocês precisam, mas eu fiz-vos um favor primeiro. Vão ter de ficar todos aqui.
Todo o grupo sentiu um nó no estômago. Himaru e Reiko desejavam estar, naquele momento, com uma equipa normal de gennins a fazer missões de rank D, qualquer coisa menos estar naquele lugar que dava arrepios na espinha.
Kizu precebia a sensação deles, mas precisava mesmo do medicamento. Por isso deu um passo em frente e fitou-o nos olhos, que brilhavam de satisfação.
-Óptimo. - Respondeu ele.
***
Todo o grupo esperava pacientemente numa masmorra. Já fazia meia hora que Kizu e Kabuto tinham ido para uma espécie de laboratório para realizar as análises, e o frio que se fazia sentir, juntamente com um certo cheiro a mofo, fazia-os sentir uma grande sensação de desconforto. Também os jounin tinham sido forçados a entrar para que se realizasse e troca de favores, então tudo dependia de Kizu agora.
Um barulho estranho fez-se ouvir entre todos, como um grunhido. Todos se levantaram e prepararam para defender um ataque, mas Himaru continuou sentado a um canto, muito calmo.
-Podem voltar a sentar-se, foi o meu estômago. - Esclareceu timidamente.
Enormes gotas surgiram sobre as cabeças de todos, que se sentiram um pouco idiotas. Lliane chegou-se perto dele e sentou-se também.
-Só entre nós... - começou ela - ...ainda gostas da Kizu, não é verdade?
Himaru fitou-a, surpreso.
-Isso... eh... não vale a pena falar disso agora. - Disse, aconchegando a camisola para se manter quente e olhando para baixo. - A nossa prioridade é voltar para Konoha com o remédio.
-Vou tomar isso como um sim... - Disse Lliane, esboçando um sorriso.
Himaru começou a ficar tão vermelho quanto a sua camisola e então a loira não conseguiu evitar imaginar como ficariam os dois amigos juntos.
Reiko e Paka não se tinham voltado a sentar. Espreitavam pelas grades que estavam nas portas da masmorra, tentando ver Kizu.
Não tiveram que esperar muito. Passados uns minutos, a rapariga apareceu, com ar cansado mas vitorioso.
Kabuto surgiu por detrás dela, fez um selo com a mão e a porta abriu-se de par em par, libertando os shinobis. Depois, voltou as costas e entrou novamente no laboratório, cuja porta desapareceu na parede.
-Kizu, já estávamos a ficar preocupados! Então...? - Perguntou Paka.
-Wow, calma aí! Tu, preocupado? O senhor *cof* descontracção? - Ela sorriu e Paka não pôde evitar rir também, por muito que tentasse evitá-lo.
-Está tudo bem. - continuou. - A solução... é estupidamente simples. Sensei, está tudo bem agora, vamos regressar o quanto antes.
Kakashi e Gai entreolharam-se, intrigados, e concordaram com um aceno de cabeça.
O caminho para o exterior do edifício, que se parecia com um labirinto no seu interior, foi feito sem uma palavra. Estavam todos tensos e não percebiam a súbita mudança de comportamento de Kizu. Desarmaram o acampamento à luz dos primeiros raios de Sol e fizeram-se à estrada.