Kizu passeava pela vila embrulhada num casaco, um pouco abatida. Não sabia porquê mas não se sentia hiperactiva e alegre como nos outros dias, estava muito recolhida. Tudo parecia ir pelo melhor para aqueles que lhe eram próximos: Lliane sentia-se cada vez mais feliz em Konoha, as férias de Yuuji tinham acabado e ele estava feliz por voltar ao trabalho, Yoru não tinha recebido muitas missões ultimamente e aproveitava para descansar da team e Paka... bem, Kizu não sabia nada de Paka desde que ele voltara à thunder, mas achava que qualquer coisa seria melhor do que ter a sensação vazia que ela tinha. Naruto passou por ela naquele momento e cumprimentou-a, bem-disposto, e Kizu retribuiu com um sorriso forçado. Ver a pessoa de quem gostava fazia-lhe lembrar a pessoa que gostava dela e que nunca mais vira desde o ataque de kirigakure, Himaru. ele era a razão porque Kizu se sentia deprimida, porque nunca mais se recordara dele mas agora que o tinha voltado a ver sentia saudades. Foi até ao edifício Hokage na esperança de ter alguma missão afixada, e quando chegou à porta viu Lliane sentada num banco na entrada com ar aborrecido.
-Lliane, o que é que estás a fazer aqui a esta hora? São dez da manhã! - Exclamou, admirada.
Lliane fitou-a com os seus grandes olhos e depois suspirou.
-Provavelmente o mesmo que tu. Não tenho nada para fazer, mas não vale a pena olhares para o placard da parede. Enquanto o Paka não voltar a team está incompleta e não podemos fazer missões...
O discurso de Lliane foi interrompido por Lee, que saía a correr do escritório de Tsunade.
-Minnassan! Ainda bem que vos encontro aqui às duas!
Kizu olhou para Lee, assustada pela súbita aparição do rapaz.
-A Hokage queria mesmo falar com vocês as duas, ia procurar-vos agora mesmo!
-E... sabes o que é que ela nos quer? - Perguntou Kizu, enquanto apertava à cintura o casaco que trazia.
-Isso não sei, é melhor irem já.
Kizu e Lliane entreolharam-se, curiosas, e assim fizeram. Bateram à porta e quando entraram Kizu ficou surpreendida por não ver Tsunade a dormir em cima dos papéis ou a beber sake, como de costume. Estava a assinar um pergaminho com algo escrito que não conseguiam ler de cabeça para baixo.
-Ah, meninas. Ainda bem que vieram, tenho uma missão para vocês as duas.
-Para nós as duas? Então e a sensei e o Paka? - Indignou-se Lliane - Não devíamos esperar que ele voltasse?
Tsunade enrolou o pergaminho e atou-o com um gesto rápido, e depois olhou as duas raparigas nos olhos.
-Isto é uma missão muito pequena que não requer mais do que duas pessoas, e além disso acho que vos diz respeito, especialmente tu, Kizu.
Kizu ficou intrigada e pegou no pergaminho, que Tsunade lhe entregou prontamente.
-Para que é este pergaminho, Hokage-sama?
-É um passe de entrada e habitação nesta vila. A vossa missão é ir ao país das ondas e entregá-lo a Hideki Himaru. Percebem agora porque vos chamei a vocês? São quem melhor o conhece por cá. Como nos ajudou e agora está sem trabalho decidi deixá-lo viver aqui, isto se ele quiser, claro.
Lliane sorriu e Kizu abriu muito os olhos azuis, sorrindo também. Era a desculpa ideal para voltar a ver o amigo e resolver as coisas com ele de uma vez por todas, precisamente o que ela queria.
-Conte connosco, Tsunade-sama! - Disseram as duas em coro, e saíram do escritório.
-Vai ser fixe vê-lo novamente, não achas? - Kizu estava finalmente bem-disposta, apesar de um pouco apreensiva.
-Já pensaste no que vai acontecer quando se encontrarem outra vez? Quero dizer, é um bocado difícil ignorar o que ele disse quando se foi embora... sem me querer meter na vossa vida, claro.
Kizu ficou pensativa por uns segundos e depois suspirou.
-Logo vejo o que faço na altura. Provavelmente não vou ser a única a agir como se não tivesse sido nada... mas o que eu quero mais é vê-lo outra vez. Vai ser bom tê-lo a viver por cá, mais um amigo...
Lliane sorriu maliciosamente e disse, com ar inocente:
-Vocês até são um casalinho bonito...
Kizu ficou completamente vermelha e uma veia proeminente saltou-lhe da fronte, mas conteve-se.
-Vamos mas é fazer as malas, partimos daqui a uma hora.
Lliane ria, divertida, e acenou que sim com a cabeça. Kizu foi para casa num passo apressado, subiu a escadaria, foi para o quarto e começou a tirar coisas do armário, criando um caos total.
-Kizu, por favor... acabei de arrumar isso. - Disse Yuuji, desesperado. - O que é que estás à procura?
Kizu olhou para cima como que a pedir paciência para aturar o irmão.
-Estava à procura de qualquer coisa para vestir, se não reparaste já passou um bom bocado desde a última vez que comprei roupa e esta está toda cheia de remendos, mais um bocado e não sobra nada do tecido original!
Yuuji riu-se e apontou para um outro armário que estava no quarto ao lado.
-Ali tens montes de coisas que nunca usaste, deves encontrar alguma coisa que te sirva.
Kizu olhou para o enorme armário e acenou que sim com a cabeça. Yuuji recomeçou a arrumar tudo o que Kizu espalhou e ela abriu as portas, começando também a tirar coisas para fora.
-Parece que encontrei qualquer coisa, é isto mesmo que eu estou à procura! - Disse por detrás da porta fechada do quarto, tão de repente e alto que assustou o irmão de morte.
Abriu a porta, radiante.
-O que achas? Pelo menos por agora deve servir, não?
Tinha vestida uma t-shirt cor-de-rosa e bastante larga por cima de uma camisola de manga comprida azul-escura e umas calças dobradas de propósito para esconder a cicatriz que tinha na perna. Atara também a bolsa que trazia sempre no braço esquerdo à cintura e trocara a velha headband, que estava toda riscada, por uma nova mais simples atada ao pescoço, que realmente lhe ficava melhor do que na testa.
Yuuji olhou, expectante, e replicou:
-Sabes que essas calças e a camisola que estás a usar por baixo eram minhas de há dois anos, não sabes?
Kizu soltou um risinho de troça.
-Chama-se reciclagem, nii-chan. Agora com licença, tenho de encontrar os sapatos. Dito isto voltou a mergulhar na pilha de roupa do armário que Yuuji arrumara pela segunda vez, calçou-se, pegou no pergaminho e saiu.
-Não esperes por mim para o jantar! - gritou, enquanto descia a escada a correr.
-Bah - suspirou Yuuji - ainda está pior do que quando era pequena. Bem, no mínimo já admite que sou o mais velho.
Dito isto coçou a nuca, deu um pontapé na pilha de roupa e saiu do quarto.
-A Kizu que arrume.
***
-Estás pronta? - disse Lliane, que esperava por Kizu à entrada da vila - Temos de nos despachar ou então quando chegarmos já vai ser de noite!
Kizu assentiu com a cabeça e saiu juntamente com a colega de equipa.
***
Horas mais tarde, Kizu e Lliane chegavam ao País das Ondas.
-Uau, isto está bem mais moderno do que quando eu cá vivia, até tem uma ponte! Nem imaginas o trabalho que foi sair daqui sem um barco quando me vim embora...
Lliane olhava para a placa da ponte.
-"Grande ponte Naruto". - Leu ela - Parece que o teu amorzinho é um herói por aqui...
Kizu ficou novamente vermelha.
-Eu só acho que ele é um pão, não estou perdidamente apaixonada, está bem? - Disse, tapando a boca quando se deu conta do que dissera.
-Ah, mas admites?
-Vamos mas é acabar com esta conversa e procurar a casa da família Hideki. Não é muito longe daqui, acho eu...
-As meninas estão sozinhas? Passem imediatamente todo o dinheiro que tiverem!
Um homem de meia-idade, com óculos escuros e muito feio apontava-lhes uma pistola às costas com um sorriso maldoso.
Kizu voltou a cabeça para trás para ver o rosto do homem e começou a tremer quando viu a arma apontada a ela. Numa situação semelhante nem o ninjutsu a podia ajudar, e não tinha tempo de sacar a katana do cinto sem que o homem percebesse.
De repente, um shuriken cruzou o ar e acertou em cheio na mão do homem, fazendo cair a pistola e deixando-o a sangrar. Furioso, o ladrão saiu a correr depois de apanhar a arma.
-Mas que idiota... vocês estão bem?
Um rapazinho baixo, de cabelo muito escuro e olhos azuis apareceu por detrás das duas raparigas, com um sorriso simpático.
-Himaru? - Perguntou Lliane, surpreendida.
O rapaz fez uma expressão de surpresa e riu-se.
-Deves estar a falar do meu irmão mais velho, não?
Kizu olhou para o rapazinho, com cerca de dez anos, com os olhos esbugalhados.
-Sora? Não pode ser! Desde quando é que tu tens essa altura?
Sora suspirou.
-Desde que eu tinha seis anos quando tu te foste embora. Se estão à procura do meu irmão venham, ele está em casa com a mãe.
-Não sabia que o Himaru tinha um irmão! - Sussurrou Lliane.
-Ele não fala muito da família, só conheci o Sora porque vinha muitas vezes a casa dele. - Respondeu Kizu.
Entraram na casa e Sora foi a correr para a sala.
-Onii-chan! Está aqui a Kizu e mais outra rapariga para falar contigo!
Himaru apareceu à porta da sala e quando viu Kizu ficou atrapalhado.
-Konbanwa... - disse ele. - Não esperava ver-vos por aqui.
Lliane percebeu o embaraço de Himaru e cumprimentou-o de volta, tentando quebrar o gelo entre todos.
-Konbanwa, Himaru! Na verdade não vamos ficar muito tempo, estamos numa missão.
Kizu não conseguia articular uma palavra, tentando arranjar algo para dizer que não parecesse muito estúpido, por isso limitou-se a acenar com a cabeça.
O rapaz convidou-as a entrar e a mãe dele e de Sora apareceu, vinda da cozinha.
-Kizu-chan! - Exclamou ela. - Há quanto tempo! Como estás? E esta deve ser a Lliane, a julgar pela headband, estou errada?
-Boa noite, senhora Hideki.
-Boa noite e sim, eu sou a Lliane. - A rapariga sentia-se um pouco vaidosa por Himaru ter falado dela em casa.
-Muito gosto em conhecer-te. Sentem-se aí, vou preparar alguma coisa, devem estar cheias de fome depois de uma viagem tão grande!
Todos puxaram de cadeiras e sentaram-se ao redor de uma mesa que havia na sala.
-Então... - disse Himaru, para não ficarem em silêncio. - Posso saber qual é a missão que vos deram?
Kizu achou que era altura de dizer alguma coisa.
-Nós viemos aqui para...
-Está pronto! - Disse a mãe de Himaru, entrando na sala com um tabuleiro cheio de sandes e copos com sumo - Espero que gostem. E se quiserem podem passar aqui a noite, temos um quarto vago!
-Obrigada, mas não vamos ficar tanto tempo. - Respondeu Lliane. - A Kizu e eu só viemos porque ela tem que falar com ele. São namorados, sabe?
Kizu e Himaru ficaram completamente vermelhos de repente e parecia que iam rebentar.
-LLIANE! O que raio é que estás para aí a dizer? - Gritou Himaru, embaraçado.
Fez os possíveis para falar depois de uma declaração daquelas.
-Kizu, eu na verdade também precisava de falar contigo... A SÓS! - Disse quando Sora se levantou da cadeira aos risinhos e tentou segui-los. O rapaz fez uma expressão desapontada e os dois foram para o quarto de Himaru.
-E, Lliane... quando voltarmos é melhor que já tenhas contado a verdade à mãe do Himaru, ou então podes preparar o pescoço! - ameaçou, ainda vermelho, e entrou no quarto fechando a porta à chave.
-Bem, Kizu, acho que já sabes o que é que eu tenho de falar contigo, não é? - Disse, sacudindo o cabelo da cara nervosamente.
-Hideki-kun, eu... - Kizu tentava encontrar as palavras certas mas não era capaz. "Talvez devesse mesmo ter pensado no que dizer", pensava ela.
-Oh não, não me vais voltar a chamar isso, ou vais? Demoraste quase um ano até meteres na cabeça que me podes chamar pelo nome próprio!
-Gomen, é o hábito... - disse Kizu embaraçada. - Fala tu primeiro.
Himaru olhou para o lado e sentou-se numa cadeira, de frente para Kizu que estava sentada na cama.
-Só queria... pedir desculpa pelo que disse no hospital, não devia ter dito aquilo. Sou mesmo parvo, nunca vou aprender a medir as palavras.
-Não percebo. Porque é que estás a pedir desculpa? Quer dizer... foi estranho, mas não morreu ninguém à conta disso!
Kizu respirou fundo e aguardou por uma resposta.
-Devia ter ficado calado. Eu não queria ter dito aquilo, saiu na altura. Sabes que às vezes acontece uma pessoa começar a gostar da melhor amiga, não é?
Kizu assentiu com a cabeça, envergonhada.
-Então também deves saber que na maior parte dos casos ninguém chega a saber de nada. Eu queria deixar tudo como era antes, mas senti que precisava de te contar de alguma maneira e não escolhi as palavras certas para o dizer. Foi um enorme mal-entendido que nem devia ter acontecido, desculpa. Eu sei que tens alguém de quem gostas e não me sinto mal com isso.
Kizu olhou-o nos olhos com ar compreensivo.
-Tudo bem. Fico feliz por saber que pode tudo voltar a ser como antes... Toma.
Entregou-lhe o pergaminho, que retirou cuidadosamente da sua bolsa, e Himaru pegou nele.
-É uma autorização para entrar e viver em Konoha, assinada pela Hokage. Foi por isto que viemos. Ela gostava que voltasses connosco, já que estás sem trabalho agora... e eu tambem ia ficar muito contente. É sempre bom ter os amigos por perto.
Himaru não sabia o que dizer. Não esperava receber um convite assim de repente.
-Isto é... só vens se quiseres. Percebo que prefiras ficar com a tua família, já não vias a tua mãe e o teu irmão há uns tempos... Já é tarde, eu e a Lliane não podemos voltar agora para Konoha, por isso talvez fiquemos aqui durante a noite. Tens até amanhã para decidir.
Levantou-se e foi na direcção da porta, mas olhou para trás antes de sair e lançou um sorriso cúmplice a Himaru, que saiu também.
-Himaru!!!!! - Gritou a sua mãe, com ar reprovador. - Que história é esta de andares com a Kizu e com outra rapariga ao mesmo tempo? É indecente!
Kizu e Himaru ficaram novamente todos vermelhos e Lliane ria a um canto, divertida, enquanto trocava um olhar de cumplicidade com Sora, que também ria perdidamente.
- Spoiler:
Ha! enganei-te! x'D Hoje não há desenho para ninguém porque tive um problema com o scanner e com a glândula da preguiça!