(Resumo do que aconteceu anteriormente: Kizu teve uma série de flashbacks sobre o seu passado no país das ondas, especialmente do único amigo que lá conheceu, Himaru, e do momento em que fugiu de lá para se tornar uma verdadeira ninja. Nesse mesmo dia descobriu que Himaru, que fugira para academia da vila da névoa, onde conhecera Lliane, estava em Konoha com o intuito de estabelecer uma aliança entre os dois países. Kizu estranhou o destacamento do amigo para uma missão de tal calibre, mas ele respondeu que havia muito que ela não sabia. Entretanto, uma série de acontecimentos estranhos envolvendo Paka fizeram com que ele fosse expulso da vila até que a sua inocência fosse provada.)
Kizu acordou estremunhada. O que acontecera nos últimos dias fora demais para ela. Primeiro, o reaparecimento de um amigo que não via há quatro anos. Depois, a expulsão de Paka. Ainda não podia acreditar que o companheiro de equipa já não estava ali, na casa ao lado. Levantou-se e vestiu-se muito calmamente, enquanto Yuuji ainda dormia. Era muito cedo e o frio ainda se fazia sentir, então achou por bem vestir um casaco por cima da camisola. Olhou pela janela, estava a nevar como ela nunca tinha visto por ali. Abriu um copinho de rámen e comeu para tentar aquecer, mas nem o rámen tinha o mesmo sabor com tanto mistério no ar. Quando acabou, saiu de casa para ir ter com Yoru e Lliane. Iriam discutir o futuro da equipa. Como ainda faltava uma hora decidiu ir ao hotel onde Himaru estava para conversar com ele. Bateu à porta do quarto, e Himaru, que também já estava levantado, abriu. Parecia não ter pregado olho toda a noite, o único olho visível cheio de olheiras e o outro, coberto pelo cabelo preto do rapaz, deixava adivinhar o mesmo.
-Himaru, bom dia. - Cumprimentou Kizu, sem a alegria habitual.
-Bom dia, Kizu. - Respondeu ele. - O que tens? - Pareces abatida.
-Pensei que já soubesses... o Paka, aquele rapaz da minha equipa, depois de tudo o que o acusaram foi expulso da vila e provavelmente a minha equipa vai ser reconstruída...
-Percebo, já tinha ouvido um rumor de que ele tentou matar a Hokage, mas tu acreditas que seja verdade? Quer dizer... ele parecia honesto!
-Já não sei, Himaru, já nem sequer sei o que pensar... É certo que passávamos a vida a discutir, mas ele é, além de companheiro de equipa, meu amigo, raios! Não acredito no que está a acontecer...
-Kizu, eu sei que pode não ser a melhor altura, mas tenho mesmo de te dizer uma coisa que ninguém pode saber que eu te disse, por isso ainda bem que vieste.
-O que se passa? Estás com um ar tão sério... - Kizu olhou para Himaru. Se era verdade que ele mesmo já não era o miúdo atrapalhado que ela conhecia, mais verdade era que aquela expressão o fazia parecer muito mais velho.
-Eu... não devia dizer-te isto. Vou ser de certeza condenado por traição e expulso da vila da névoa, mas só eu posso evitar que morram dezenas de pessoas.
-Himaru, o que é que estás a tentar dizer? - Kizu estava confusa. Qual seria o segredo terrível que Himaru tinha de lhe contar? Nunca o vira tão sério, nem mesmo quando partira do país das ondas.
-Eu... a verdade é que fui enviado para negociar uma falsa aliança com Konoha. A minha vila quer que vocês pensem que somos aliados para depois vos atacarmos desprevenidos. Pretendem tomar a vila e eu não pude recusar a missão, as leis dos shinobis obrigam-me a levá-la até ao fim. Eu não quero ter de fazer isto, Kizu. Tens de arranjar uma maneira de me interceptar e prender para que eu não possa cumprir o que me ordenaram! - Himaru parecia falar com dificuldade, pois tinha medo de cumprir a sua missão mas também do que aconteceria se falhasse.
-Himaru, eu não acredito que tu... que tu me mentiste! - Kizu estava chocada com o que Himaru lhe dissera. - Então vais destruir esta vila?
-Kizu, eu não quero fazer isto! Tens de me parar!
-Eu... não sei se consigo acreditar em mais ninguém. O que aconteceu ao Paka, também foste tu? - dizia aquelas palavras com um ar desafiador, mas no fundo Kizu só queria chorar.
-Não, isso não fui eu nem ninguém da minha vila, eu juro. O nosso alvo é uma vila inteira, não uma única pessoa.
Ao ouvir aquilo, Kizu ficou ligeiramente mais aliviada. Não aguentaria se o melhor amigo fosse responsável pela expulsão de Paka.
-Mas e o que é que te vai acontecer se eu denunciar o ataque? Afinal, estás mais do que envolvido nisto! O que é que eu faço?
-Esquece que sou eu, limita-te a ir falar com a Hokage! Eu fico bem, prometo.
Kizu olhou para o lado para não o enfrentar. Murmurou qualquer coisa e saiu do quarto, deixando Himaru sentado na cama a olhar para ela.
"Porquê isto tudo, eu estava tão feliz!", pensou. Lembrou-se do momento em que o reencontrara após todos aqueles anos, da felicidade que sentira, e Paka estava com eles. Sentiu a raiva a crescer dentro de si, apetecia-lhe rogar pragas a quem estava a tornar a sua vida num inferno. Pediu para falar com a Hokage, e quando entrou na sala quase não conseguia falar.
-O que aconteceu, Kizu? - Tsunade parecia extremamente aborrecida no meio de um monte de papel. - Se é para falar do Paka, não precisavas de vir. Já disse o que tinha a dizer sobre o assunto.
-Não é sobre ele. Um amigo meu, Himaru da vila da névoa, veio ontem falar consigo, certo?
-Sim, sobre uma aliança com a vila, o que tem isso? - Perguntou Tsunade, com cara de quem quer despachar o assunto.
-Tsunade-sama, ele acabou de me contar que a vila dele não quer aliança nenhuma. Eles querem que baixemos a guarda para nos invadirem!
Tsunade ergueu o sobrolho.
-Foi esse rapaz que te disse?
-Tsunade-sama, ele pode ser da vila que nos quer atacar, mas eu confio nele, ele não quer cumprir esta missão! Foi forçado!
-Não podemos acreditar assim no que um estrangeiro te disse. Já nem nos nossos próprios shinobis podemos confiar... - Tsunade baixou o tom de voz e Kizu reparou que o protector de Paka estava em cima da secretária, por detrás de um monte de papel.
-Hokage-sama, lamento mas eu não posso admitir que fale assim de um companheiro meu! - Kizu estava a fazer um esforço para que a marca de maldição não quebrasse o selo feito por Kakashi, pois tudo aquilo estava a mexer-lhe com os nervos.
-Kizu, não te aconselho que me ataques, não quero ter de expulsar mais ninguém desta vila! - Tsunade bateu com o punho na mesa e cerrou a expressão - Tu, a Lliane e a Yoru não são as únicas a sofrer com a situação. Eu também confiava naquele rapaz.
Kizu apercebeu-se de que Tsunade não tinha feito senão a sua obrigação.
-Lamento - disse - descontrolei-me.
-Não há problema. Vou colocar alguns Jounins e ANBU em alerta para prevenir o ataque de que falaste.
Kizu acenou com a cabeça e saiu lentamente. Caminhava com a cabeça baixa e a sensação de que nada voltaria a ser como antes. Olhou para o relógio de parede no corredor e apressou o passo para ir ter com Lliane e Yoru. Estas esperavam-na perto do parque onde a equipa 12 tinha estado reunida pela última vez.
-Ohayo - Disse.
-Ohayo, Kizu. - Responderam, nenhuma com entusiasmo.
As três sentaram-se ao redor de uma mesa e Yoru, com pouca vontade, começou a falar.
-Bem, meninas, como já sabem do que aconteceu não vale a pena relembrar-vos. Desde que o Paka foi expulso que estamos com um elemento a menos na equipa. Tentei de tudo, mas não consegui que um novo membro fosse admitido. Isso significa que a team 12 acabou.
Kizu e Lliane olharam para a sensei, chocadas com o que acabavam de ouvir.
Vocês vão ser redistribuídas por outras equipas e eu voltarei às missões com grupos de jounins. Lamento que isto acabe assim, e... gostei muito de ser vossa sensei. Boa sorte a partir de agora.
Levantou-se lentamente sem mais nenhuma palavra e foi-se embora.
-Desculpe, mas não me parece que vá ser como você disse, Yoru-sensei!
Kizu levantara-se da mesa e gritava para a sensei, que estacou ao ouvi-la.
-A Lliane pode ser enviada para outra equipa se quiser, mas eu não vou juntar-me a team nenhuma que não seja esta!
-Kizu, o que é que estás a dizer? - Lliane estranhou a reacção da amiga. - Onde queres chegar?
-Estou a dizer que... - fez uma pequena pausa e engoliu em seco - ...vocês fiquem se quiserem, mas eu vou atrás do Paka e só volto com ele. Não vou permitir que um camarada seja banido desta maneira, ou eu não me chame Akayume Kizu!
Lliane arregalou os olhos. Era a primeira vez que a via referir-se ao seu sobrenome, mesmo com a equipa.
-Kizu, mas isso é... - Lliane não teve coragem de continuar.
-É puro suicídio! Kizu, não há nada que possas fazer, aceita isso! - Yoru continuou aquilo que Lliane não fora capaz de dizer.
-Só se for para vocês... Sinto-me desiludida. A própria sensei disse que não faríamos nada se não ficássemos juntos, e nós fizemos a promessa de agir sempre em equipa! E já se esqueceram da nossa vontade de fogo? O instinto dos habitantes desta vila para protegerem os companheiros? Já não vos conheço. Se não me apoiam, pior. eu vou na mesma.
Virou as costas e foi para casa reunir o seu material.
-Kizu, o que estás a fazer? - Yuuji já acordara e estranhou os actos da irmã.
-Estou a reunir os meus instrumentos, parto hoje à procura do Paka.
-Mas tu estás doida? Ele foi banido! Tu tens de ficar aqui! - Yuuji não esperava que Kizu fosse fazer algo assim.
-Não acredito que até tu me queres demover. Nunca estive tão desiludida como agora, Yuuji. Eu vou, e não há nada que possas fazer para me parar.
Pegou no saco que estivera a arrumar, colocou a katana na bainha e saiu de casa. Yuuji ficou a vê-la partir, consciente de que a irmã não iria parar por muito que a tentassem demover. Quando, pelo meio da neve que caía, viu Kizu atravessar o portão, reparou numa coisa.
O protector com o símbolo de Konoha jazia, deliberadamente ali deixado, em cima de uma mesa-de-cabeceira.
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