-Orochimaru-sama.
-O que foi? Não vês que estou ocupado com as experiências?
-É só que... a rapariga em que está a efectuar as experiências de um selo que não afecte a linhagem avançada... Já não consigo recuperá-la. Está demasiado afectada para servir nos seus estudos..
-Queres então dizer que já não nos é útil. Muito bem, será morta como os outros. Entendido, Kabuto? - Replicava uma voz seca e murmurada.
Kizu, ao ouvir estas palavras, abriu lentamente os olhos e ergueu o corpo cansado sem que ninguém lhe desse atenção. Seria morta em breve, tinha a certeza de ter ouvido isso.
Um selo descontrolado cobriu-lhe o corpo e os seus olhos tornaram-se inexpressivos. Agarrou as grades da cela que a prendia e, no seu íntimo, clamou por ajuda. Mas nada a salvaria.
A arder de raiva, concentrou toda a sua energia nas barras, que se cortaram num impulso. O pesado metal caiu no chão com um estrondo.
-Quem está aí? - Perguntou Kabuto, enquanto a sua mão brilhava, cheia de chakra concentrado.
A rapariga, mais morta que viva, os cabelos ruivos em desalinho, não respondeu nada. Correu com toda a sua velocidade para a única saída do esconderijo. Kabuto perseguiu-a.
-Deixa-a ir.
-Orochimaru-sama, ela...
-Ela não nos faz diferença. e vou certificar-me de que não trará sarilhos, então poupa as tuas forças para me arranjares uma nova cobaia.
Dito isto, uma onda sonora tão forte que se podia ver percorreu o ar e atingiu Kizu. Ela não parou de correr e muito menos abrandou, levada pelo ímpeto de sair dali o mais depressa possível. Enquanto corria, esquecia os últimos três anos, o horror, o medo, o sofrimento...
Completamente atordoada, desmaiou à beira de um riacho, e ali ficou.
-Está a acordar! Está a acordar!
Um miúdo de cabelo preto, de nove anos, baixo para a idade e magro, gritava de admiração.
-Já ouvi, pára com os gritos ou vais assustá-la! - Respondeu a voz de uma idosa.
-Desculpe, baa-san.
Kizu abriu os olhos. Não reconhecia nenhuma das vozes. Sentiu-se esquisita e levantou uma mão. Quando olhou para ela percebeu que os dedos já não eram curtos como os de uma criança de seis anos e ficou alarmada. O que lhe acontecera?
Sentou-se repentinamente e foi então que avistou o rapaz e a velhota, que entrava pelo quarto adentro.
-Eu... onde é que eu estou? - Perguntou, atordoada - Isto não é Konoha!
-Claro que não! - Respondeu prontamente o rapaz - Isto é o país das ondas! Quem és tu?
-Eu... Chamo-me Kizu, do clã Akayume. E vocês, quem são? Como é que eu vim aqui parar?
-Chamo-me Kurogane - disse a idosa - e este é o Himaru. - Apontou para o rapaz. - Eu estava a passar ao pé do riacho e aparecesta lá desmaiada, felizmente o Himaru estava a passar por lá e ajudou-me a trazer-te até aqui.
-Obrigada, então... - Kizu ainda não percebera porque aparecera de repente no país das ondas, se a última coisa de que se lembrava era Konoha e o seu irmão. - Mas, por favor, eu preciso de algum tempo.
-Compreendo - disse a velhota - Himaru, vamos. Ela precisa de descansar e de voltar a si.
Himaru seguiu-a e, com uma última espreitadela para dentro do quarto, fechou a prta atrás de si.
Kizu levantou-se e viu-se num espelho alto que estava na parede. Estava muito mais velha, mais magra e alta do que se lembrava de ser. De certo modo estava confusa, mas por outro sentia-se curiosa por perceber como crescera sem dar por isso.
Reparou que o seu cabelo estava a cair-lhe para a cara, de tão comprido que ficara, e rasgou um bocado da velha túnica que trazia enrolada ao corpo para o prender atrás.
Voltou a mirar a sua imagem e, de repente, ouviu um ruído vindo do exterior.
-Ei! Mas o que raio... seja quem for, apareça!
Himaru levantou-se e voltou a espreitar pela janela.
-Tu? O que queres? - perguntou, indignada.
-Desculpa, eu... - o rapaz corou - confesso que fiquei morto de curiosidade. Não te lembras de nada?
-Ah... não, a última coisa que me lembro é de estar na minha vila, Konoha, mas nessa altura eu tinha seis anos. Porque é que estás a olhar para mim dessa maneira?
O rapaz olhava fixamente para ela.
-Bem... Konoha não é uma aldeia ninja? Tu... não pareces uma ninja!
Kizu olhou para baixo, com uma expressão reprovadora.
-Era suposto ser. Nunca cheguei a entrar na Academia. Satisfeito? Só queria estar lá agora. O meu sonho é fazer a academia e tornar-me uma ninja!
-Parece que não somos muito diferentes então, - o rapaz sorriu abertamente e entrou pela janela - eu tenho o mesmo sonho.
Kizu sentiu uma grande empatia pelo rapaz.
-Ai sim? Então fazemos um pacto: treinaremos juntos, eu ensino-te o que sei, e quando pudermos entrar para a academia e nos graduarmos eu quero lutar contigo! - Kizu esquecera a sua confusão e tristeza e sorria também.
-Hai!
De repente, tudo desapareceu.
Kizu estava agora sózinha naquela casa, com as portas e janelas trancadas, com os olhos vermelhos de chorar, mas com uma expressão decidida.
-Kizu, abre já a porta! - Himaru gritava enquanto batia na porta com toda a força - Não podes ficar no mesmo lugar para sempre! Tens que aceitar que... que a Kurogane-baasan morreu! A vida continua! Kizu, responde!!!
Kizu moveu-se como um relâmpago.
-Tens razão, não posso ficar para sempre no mesmo lugar, a vida continua. - Respondeu, sentada no telhado.
-Kizu? - Himaru não a reconhecia. Kizu estava vestida com roupas de shinobi, largas e prácticas, e levava uma katana à tiracole. No braço direito, tinha uma bolsa de armamento. O seu cabelo também estava mais curto, para ser mais práctico. Se Himaru não a conhecesse tomá-la-ia por uma guerreira.
-Mas o que...
Kizu saltou para o chão com a mesma velocidade.
-Já nada me prende aqui, agora. Tenho de partir e realizar o meu sonho, e sei que tu farás o mesmo. Ainda tenho muito treino pela frente e não será aqui que terei condições para o realizar.
-Kizu, tu... - Himaru olhou para baixo, irritado - Prometeste que iríamos treinar juntos! Que nunca nos iríamos separar! E agora isto?
-Lamento, Himaru... mas tem de ser assim. Espero que um dia compreendas. Quero voltar para a minha vila, por favor não me tentes impedir. - Tinha os olhos a brilhar de tristeza, como se fosse chorar, mas não o fez. - Boa sorte. - Murmurou, desaparecendo depois na floresta envolvente.
-Boa sorte... Kizu.
De novo tudo se dissolveu e Kizu voltou à realidade. Tudo o que vira não estava a acontecer, era o seu passado.
-Kizu, o que é que tens? É muito estranho que não tenhas dito nada em meia hora! - Yuuji apanhava roupa espalhada pelo chão, numa tentativa de arrumar o quarto dos dois. - Se eu soubesse que ficavas assim não te tinha pedido para ajudares!
-Ah? Oh, desculpa, estava só a pensar... - Disse, atordoada. - Nada de importante. Estava a lembrar-me de um amigo que... deixei para trás. - Olhou para baixo com um ar culpado.
-kizu, isso é o que eu estou a pensar? - Brincou Yuuji, para tentar aliviar o ambiente.
-Ora, cala a boca! - Kizu ficou vermelha e virou as costas para apanhar um par de cuecas fio dental cor-de-rosa do chão - Sabes perfeitamente que não! - Voltou a cara para ele - Não digas disparates!
-Ah, pois, já me esquecia daquilo com o Naruto... ou achas mesmo que não reparamos como tu ficas ao pé dele?
Kizu ficou ainda mais vermelha, como um tomate, e a sua cara quase se confundia com o cabelo ruivo.
-credo, acalma-te! Eu não lhe digo nada! - Yuuji esforçava-se para não rir da cara da irmã. Ficava extrememente engraçada toda vermelha cada vez que alguém tocava no assunto. - Mas, afinal, quem era esse amigo? Nunca me falaste do que se passou no país das ondas!
-Não foi nada de especial... é que ele era o único amigo que eu tinha naquela altura. Lembro-me que lhe ensinava alguns jutsus e costumávamos dizer que nos íamos tornar fortes juntos, e quando nos tornássemos ninjas iríamos lutar um com o outro... éramos tão pequenos na altura... Bons tempos, mas nunca mais soube nada dele desde que parti.
Kizu abriu a janela para arejar o quarto.
-Saudades...? - Perguntou Yuuji - Vá, vamos sentar-nos um bocado e descansar.
-Tu, a descansar? Quem és tu e o que fizeste ao ergomaníaco do meu irmão?
Os dois riram-se. Kizu interrogava-se sobre porque é que se estava a lembrar do que acontecera havia quatro anos.
Nesse momento, alguém bateu à porta. Lliane e Paka estavam na entrada à espera de Kizu. Ela foi abrir a porta.
-Minna! Que surpresa, não vos esperava aqui!
Paka lançou-lhe um olhar inquisitivo.
-Pronto, esperava ver só o Paka, mas ele mora na casa ao lado... o que aconteceu para virem os dois?
-Oh, é só que - explicou Lliane - estava a pensar em irmos almoçar ao Ichiraku rámen, se vocês quiserem vir.
Lliane sorria de satisfação, e Paka olhava, expectante.
-Então? - Perguntou ele - vêm ou não?
-Bolas - disse Kizu - Não consigo recusar! Vens, Yuuji?
-Não, fica para outro dia, agora tenho de arrumar isto tudo.
-Tu é que sabes - Disse, e os outros três saíram.
-Ainda está na mesma? - Perguntou Lliane.
-Hum... pelo menos está a trabalhar menos nas férias do que quando está em serviço... Nunca vou entender o meu irmão, mesmo sendo meu gémeo!
Lliane riu-se. Em poucos minutos estavam junto do restaurante.
-Oh, hoje o Naruto não está aqui... - Constatou Kizu, desapontada.
-Kizu, minha amiga, tu és tão óbvia! - dizia Lliane, com ar de professora e dedinho indicador no ar - Olha para mim, sou imune a essas coisas!
Nesse momento, Neji passou pela rua.
-Ohayo gozaimasu - cumprimentou.
-O-O-Ohayo Neji-kun...- Lliane estava completamente vermelha.
-Ohayo - Disseram Kizu e Paka.
neji continuou a andar e Lliane respirou de alívio.
-Dizias? - Kizu riu. - Não estavas a falar de seres imune à paixão?
-Shut the f*uck up, Kizu. - Lliane encomendou três tigelas de miso rámen e os três começaram a comer com um sonoro "Itadakimasu!".
-O que tens, Kizu? - Perguntou Lliane. - Hoje ainda estás mais estranha do que o costume!
-Sim, até eu estou a reparar nisso... - Acrescentou Paka.
-Não é nada, pessoal. Eu estou bem, é só uma sensação esquisita... mas já passou.
Quando acabaram de comer, os três dirigiram-se para o jardim perto do edifício Hokage e sentaram-se na relva.
Kizu não queria falar do que recoradara e nenhum dos outros parecia ter algo para falar, então deixaram-se ficar a passar o tempo.
-Oy - cumprimentou Kakashi - bom dia.
-Olá, Kakashi-sensei. - Cumprimentaram os Gennins.
-Pois é, Kizu, ainda bem que te encontro. Anda um rapaz da vossa idade, da névoa oculta, à tua procura.
-Um rapaz da minha vila? - Perguntou Lliane - quem é ele?
-Isso não sei. Kizu, devias ir procurá-lo.
-Já vou, Kakashi-sensei, obrigada. - Levantou-se e andou uns metros.
-Espera, vamos contigo. - Disse Paka - Ele pode ser perigoso.
-Está bem, então. - Respondeu Kizu. - Mas Paka, eu acho que estás a ficar paranóico.
-O que é que disseste? - Ameaçou Paka.
-Então, não comecem outra vez a discutir! Vamos mas é procurar o rapaz. - Lliane já estava farta de os separar.
Procuraram por toda a vila, até que Kizu estacou de repente.
-O que foi? - Perguntou Lliane.
-Não pode ser... eu ia jurar que conheço aquele rapaz, mas não pode ser ele... - apontou para um rapaz alto, com os seus 15 anos, com o cabelo preto muito escuro e os olhos azuis. Trazia um protector da vila da névoa na testa e parecia estar a pedir informações a alguém.
-Só pode ser daquele tipo que o Kakashi-sensei nos falou, vejam o protector dele! - Concluiu Paka.
-Esperem lá - Interrompeu Lliane - EU conheço aquele tipo! Chama-se Himaru, andou comigo na academia!
-Lliane, disseste "Himaru"? - Kizu estava perplexa - O nome... é mesmo ele!
Os seus olhos brilhavam de surpresa e entusiasmo.
-Conhecem-se? - Perguntou Lliane.
-Ele é do país das ondas, foi o único amigo que tive durante o tempo que lá vivi! Mas está tão diferente... - Olhou novamente para ele de alto a baixo - ele costumava ser... desta altura! - Elevou a mão a mais ou menos um metro do chão - E agora... Mas porque é que ele me veio procurar depois deste tempo todo? Será que ainda está zangado comigo?
-Kizu, eu também o conheço - Disse Lliane - e sei que ele não é do tipo de guardar rancor por nada. Devias ir falar com ele, simplesmente!
-Hai. - Kizu dirigiu-se para Himaru, que estava de costas e não a viu, e colocou-lhe a mão no ombro.
-Ouvi dizer que estavas à minha procura - disse.
Himaru voltou-se para trás, surpreso.
-Kizu? - Os seus olhos estavam muito abertos. - És mesmo tu! - Deixou transparecer um sorriso de felicidade - Nunca mais tive notícias!
-Muito menos eu! - fitou o protector do amigo, que agora era visivelmente mais alto que ela - E pelos vistos também realizaste o teu sonho, não é?
-Parece que sim... pouco depois de te teres ido embora também fugi e fui para a vila da névoa para estudar na academia. Não achavas que te ia deixar ficar à minha frente, pois não?
De repente, viu Lliane e Paka um pouco mais atrás, entre a multidão.
-AAH! O que é que ELA está a fazer aqui? Desde quando...
-Do que é que estás a falar? A Lliane já me disse que andaram juntos na academia, e ela agora está na minha equipa, juntamente com o Paka, que está ao lado dela.
-Se ela me vê, estou feito! - Disse Himaru, perturbado.
-Então já estás feito, porque ela viu-te lá atrás! - Kizu parecia não estar a entender nada do que se passava.
Lliane avançou para junto deles, alegre.
-Olá, Himaru! Já não te via há algum tempo! - disse.
Himaru parecia estrahar a situação quase tanto como Kizu.
-Não... não me vais atacar? - O rapaz fez uma cara surpreendida.
-Do que é que estás a falar, Himaru? Já não posso cumprimentar um antigo colega?
-Mas pensei que tinhas dito que me ias cobrar tudo com juros! - Himaru parecia estar a relaxar, mas ainda estava preso no mesmo lugar.
-Estás a falar das cento e trinta e oito vezes que tentaste experimentar em mim os teus jutsus? Bem, não fiquei com sequelas e não me apetece lutar agora, então considera-te safo.
Kizu colocou a mão à frente da boca mas não conseguiu disfarçar um risinho de troça.
-Bem, receio que tenha de ir agora. Eu não vim cá só para falar contigo, Kizu. Estou em missão.
-Missão? De que género, podemos saber? - Kizu estava curiosa.
-Vim negociar uma aliança entre Konoha e a Névoa oculta com a Hokage-sama, parece que houve alguns mal-entendidos e foi preciso que um embaixador viesse tratar do assunto pessoalmente.
-Não te julgava diplomata, Himaru! - Kizu estranhava que o amigo, que sempre fora atrapalhado com a maioria das coisas, fosse destacado para uma missão tão importante.
-Há muitas coisas que tu nem julgas, Kizu... - Himaru lançou-lhe um último sorriso e rumou ao edifício Hokage.
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