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Meio-dia. O sol erguia-se alto no céu de Konoha, fazendo com que as temperaturas se elevassem rapidamente. Mas não era isso que impedia os habitantes da Vila Oculta da Folha de manterem a sua habitual e calma rotina agitada. Na zona do mercado em particular, a agitação era notória. Transeuntes movimentavam-se de um lado para o outro, procurando este ou aquele produto em falta. Um grupo de crianças corria pelas ruas, perdido nas suas brincadeiras inocentes.
No centro da vila, no local onde acabava a zona do mercado, erguia-se uma colossal fonte com mais de 4 metros. Á frente dela, lendo os quatro nomes lá inscritos, encontrava-se uma rapariga baixa com cabelos negros como breu. Enquanto os seus olhos claros, quase brancos devido à luz intensa do sol que se reflectia neles, percorriam o pequeno texto que acompanhava os nomes que aquele monumento homenageava, as pontas dos seus dedos acariciavam o pó da pedra, ainda fresca de tão recente que era. Sentiu o aperto no seu peito crescer à medida que as memórias da semana passada voltavam à sua mente, à medida que as recordações da homenagem àqueles quatro jovens Gennins forçavam o seu caminho para a primeira linha dos seus pensamentos. Sentia já um nó desagradavelmente familiar formar-se na sua garganta.
-Nari-chan, já por aqui?
Sasunari virou o seu rosto para a voz que a chamara pela alcunha que mais odiava. Á sua frente viu um homem de cabelos castanhos e olhos verdes, profundos e sábios. Sasunari quase suspirou de alívio, agradecendo por ter alguém que a distraísse dos seus pensamentos mais sombrios e inconvenientes.
-Seikou-sensei. – Saudou ela, quase que suspirando com um sorriso nervoso. – Bem, na verdade já passa da hora combinada.
-Já? – O jovem Jounin curvou-se ligeiramente para trás, espreitando para um relógio no interior de uma loja sombria ali perto. – Bolas, tens razão.
Sasunari riu-se levemente, enquanto olhava nervosamente para Seikou e este se lamentava pela sua falta de pontualidade. A jovem já se havia desabituado à companhia dele há muito tempo, e tê-lo ali novamente à sua frente, apesar de a distrair dos seus pensamentos, deixava-a algo nervosa.
-E então onde é que anda o… Kurato, não é?
-Sim. – Confirmou Sasunari, algo acanhada. – Ainda não chegou.
-Estranho… - Resmungou Seikou, torcendo o nariz.
-O que é que é estranho? – Inquiriu Sasunari inocentemente, enquanto deixava ambas as mãos apoiarem-se na fonte atrás de si.
-Ele não estar contigo. Quer dizer… - Seikou parou por momentos, ajustando de modo distraído as protecções metálicas esverdeadas que lhe cobriam o antebraço. – Eu não o vejo muitas vezes, mas sempre que o vejo ele está colado a ti. É estranho ver-te sozinha.
-Não teria dito isso há alguns anos atrás.
Seikou fez uma careta perante a resposta meio traiçoeira da sua (outrora) estudante. Enquanto ela sorria distraidamente, olhando para o grupo de crianças que desta vez se colocara ao lado da fonte, brincando como o grupo de travessos que realmente eram, Seikou não pôde deixar de notar que realmente ela estava diferente do que era antes, e intrigava-o o facto de uma simples observação por parte dela ter tido tal efeito nele. Enquanto a observava a observar os catraios, não podia deixar de notar que ela crescia a um nível assustadoramente rápido. Principalmente no que tocava ao desenvolvimento intelectual.
-Desculpem o atraso.
Seikou e Sasunari dirigiram os seus olhos para a nova voz que se lhes juntara, uma voz que para Seikou era nova, mas que não poderia ter sido mais familiar para Sasunari.
-Boas. – Saudou Seikou, observando o rapaz loiro enquanto ele abraçava Sasunari de modo demasiado carinhoso. – Ei, calma. Contenham-se enquanto eu estou por perto, pode ser?
Kurato, algo desagradado, soltou Sasunari, que parecia ainda mais acanhada do que antes.
-Então, sensei… - Começou Sasunari, quebrando o silêncio que se instalou entre os três. – Afinal porque é que nos chamou aqui?
Seikou pigarreou, enterrando as mãos nos bolsos antes de começar a falar.
-Já ouviram os rumores sobre… EI!
Seikou deu um salto aterrorizado quando sentiu algo pressionar-se contra a sua perna. Ouviu Sasunari e Kurato rirem-se que nem uns perdidos enquanto ele procurava o autor da gracinha. Sentiu as suas calças serem ligeiramente puxadas, e então olhou para baixo. Com o tecido grosso das suas calças entre as suas poderosas mandíbulas, encontrava-se aquilo que parecia ser uma raposa negra com um tamanho anormal, provavelmente do tamanho de um cão médio. Seikou expirou, surpreendido. O animal parecia extremamente curioso em relação ao homem, cheirando-o de modo tresmalhado.
-Haha, muito engraçadinha. – Disse Seikou para a raposa, enquanto ela se sentava em frente dele e o olhava com olhos singulares, deixando o seu crânio descair-se ligeiramente para a direita. – Vá, vai-te lá embora.
Os dois Gennins continuaram a rir-se enquanto a raposa se levantava e ultrapassava o professor, para se dirigir a Kurato. Seikou olhou para ambos inquisitoriamente, até Sasunari, ainda com um ligeiro sorriso no rosto, lhe explicar o que se passava.
-Esta é a Kitsune. – Começou a jovem, enquanto a raposa se dirigia para ela, em busca de alguns afagos que Sasunari prontamente lhe ofereceu. – É a companheira de combate do Kurato.
-Ah… - Seikou continuou a olhar para o animal, de boca aberta. A raposa repousou a sua cabeça fina no colo de Sasunari, e esta última afagava-lhe distraidamente as orelhas enquanto esperava que Seikou retomasse o que acabara de iniciar há pouco. – Bem, como eu ia a dizer… Suponho que já tenham ouvido rumores sobre os suicídios em Tanzaku-Gai. - Kurato e Sasunari, agora muito mais sérios, anuíram. Seikou aguardou alguns momentos antes de continuar. – Bem… Pelos vistos esses suicídios tiveram uma mãozinha alheia lá pelo meio.
-Ou seja, homicídios? – A voz de Kurato soava séria e compenetrada.
-Sim. Aparentemente guerreiros bem treinados têm cometido os assassinatos, realizando-os de modo a que pareçam suicídios. – Explicou Seikou. – Pelos vistos os alvos são os embaixadores das 5 Nações Ninja.
-Embaixadores? Mas…
-Vai haver um Consílio entre as 5 Grandes Nações com o objectivo de arranjar medidas que permitam manter a paz em todas as Nações Ninja. Recentemente surgiu um grupo terrorista que poderá vir a ultrapassar o poder da Akatsuki se não for travado a tempo, e pelos vistos são os membros dessa organização que têm executado os assassinatos.
-E o que é que nós temos a ver com o assunto? – Indagou Kurato, mal adivinhando aquilo que estava para vir.
-Fui incumbido de escoltar o embaixador de Konoha até ao local do Consílio numa missão não oficial, e estou com algumas dificuldades em arranjar uma equipa. Gostaria de saber se posso contar convosco.
Os dois jovens entreolharam-se, surpreendidos.
-Nós? Mas somos apenas Gennins… - Atalhou Sasunari.
-Sim, mas não tenho outra escolha senão recorrer a Gennins. Nenhum dos Jounins está disponível de momento, e os Chuunins não querem arriscar o pescoço numa missão não oficial.
-E porquê nós?
-Porque… - Seikou expirou. – Já conheço mais ou menos o estilo da Sasunari. A ti não te conheço lá muito bem, mas como é costume estares com ela e assim, confio que valhas alguma coisa.
Kurato bufou e cruzou os braços, indignado pelo facto de Seikou o subestimar tão descaradamente.
-De qualquer modo dar-me-ei ao trabalho de treinar algumas horas convosco, só para estar bem consciente das vossas capacidades. - Continuou Seikou, notando que já dissera algo inconveniente. – Não necessitam dar a vossa resposta já hoje. O embaixador só vai partir dentro de uma semana, têm cerca de dois ou três dias para ponderar a vossa decisão. Posso confiar que o farão?
Ambos anuíram.
-Óptimo. Bem, sendo assim vou andando, já se está a fazer tarde. – Declarou Seikou, voltando a olhar para o relógio no interior da loja. – Fiquem bem.
Sem mais palavras, Seikou desapareceu numa nuvem de fumo. Assim que deixou de estar visível, Kurato levantou-se com um salto, erguendo um braço no ar.
-MAS QUEM É QUE ELE PENSA QUE É PARA ME SUBESTIMAR ASSIM? – Rosnou ele, atraindo os olhares escandalizados de algumas donas de casa que faziam as últimas compras do dia ali perto.
-Vamos, Kurato.
Enquanto Sasunari esperava que o rapaz se decidisse a segui-la, Kitsune agarrara-se às calças dele e começara a puxá-lo.
-Bah, que chata. – Explodiu Kurato, dando um safanão às suas calças para que Kitsune as largasse. A raposa, indignada, rosnou ao seu dono, provavelmente lembrando-o daquilo que aconteceria se a irritasse demasiado.
