O vento acariciava suavemente os ramos das árvores, fazendo as suas folhas tremerem sob a noite. A lua cheia brilhava intensamente, traçando raios de luz suave através da floresta, criando a ilusão de uma manhã com uma cor diferente. Um par de olhos observava o céu a partir do topo de um telhado, quase como se esperasse que a força do seu olhar o estilhaçasse. Um ruído proveniente da habitação em frente fez com que os olhos do indivíduo se desprendessem do céu, olhando para uma janela onde os vultos de dois indivíduos eram tenuemente desenhados numa cortina amarelada pela luz fraca e esborratada de uma única vela. O vulto aguardou pacientemente, agachado por entre as telhas, observando os movimentos cada vez mais dispersos das duas sombras. Uma delas desapareceu (provavelmente o detentor daquela sombra acabara de se deitar) e a outra desfez-se na escuridão, quando a pequena chama dançaricante da vela foi apagada.
O vulto no telhado deixou-se ficar quieto por mais alguns momentos, sentindo o frio da noite enterrar-se nas falhas da sua roupagem. Quando sentiu que já era seguro movimentar-se para fora do seu esconderijo, iniciou uma descida algo sinuosa até ao solo.
Quando os seus pés aterraram suavemente na terra solta, levantando uma fina camada de poeira silenciosa, o vulto deixou-se escorrer para uma parede próxima, conciliando a sua presença nas sombras mais uma vez. Por alguns momentos ficou com as costas coladas à parede sinuosa, sentindo a sua calma respiração mover o seu tórax em movimentos constantes e compassados. Eventualmente, a porta que albergava a janela que ele há pouco observara consentiu que a sua porta fosse aberta a partir do interior por uma jovem rapariga de cabelos castanhos, dominados numa firme trança. O vulto observou-a a fechar a porta rústica atrás de si, e sentiu o seu sangue borbulhar com a expectativa. Mas controlou-se. Não. Não era ela o seu alvo. Tinha de cumprir a sua missão sem quaisquer distracções.
Mais tarde, talvez…A segurança do beco voltou a ficar assegurada quando a rapariga dobrou a esquina, desaparecendo na noite. Ainda vigilante e extremamente atento aos seus circundantes, o vulto desencostou-se da parede, e o seu corpo foi coberto pela luz avermelhada do luar. No instante seguinte, já se encontrava com um ombro encostado à porta, forçando-a para o interior.
Sem fechar a porta atrás de si, o vulto invadiu a tosca residência com um silêncio maior do que aquele que ele julgara ser capaz de alguma vez vir a produzir. Agora, o seu sangue borbulhava mais intensamente.
Está perto, muito perto…A sombra invasora percorreu o soalho, envolvida pelo brilho do luar. Percorreu toda a extensão do soalho com um voo saltado e mudo, e em segundos subiu as escadas que o levariam para o andar de cima: para o local onde, há pouco, espiara as sombras projectadas nas cortinas.
Chegado ao andar pretendido, o vulto parou por momentos. O seu batimento cardíaco estava acelerado, expectante pelo que se seguiria. Não ligando aos seus instintos, que nesse momento lhe gritavam para que ele se precipitasse para a sua presa, o vulto esperou. Escutou os ruídos que o rodeavam atentamente, procurando um sinal de que a sua vítima se encontrasse desperta. Esperou durante bastante tempo, mas nenhum sinal desses chegou. Com um sorriso vitorioso a brincar-lhe no rosto, o vulto prosseguiu com o seu propósito.
Lentamente, percorreu o estreito corredor recheado de portas, procurando aquela que lhe interessava. Fechou os olhos por momentos, tentando recordar-se… Qual fora a janela?
Traçando mentalmente o possível local onde se encontrava a sua vítima, o vulto movimentou-se mais uma vez. Perto da porta que correspondia à sua conjectura, deixou-se ficar quieto e silencioso mais uma vez. O seu coração palpitava cada vez mais rápido, qual criança que se encontrava na expectativa de ver o que continham os embrulhos que se lhe destinavam por baixo de uma árvore de natal. Do outro lado da porta, ouviu o leve roçagar de tecido e um suspiro.
Bingo…Agora despido de todos os cuidados iniciais e com a expectação no auge, o vulto deixou a sua forte e imponente figura avassalar o quarto. Já lá dentro, viu uma pequena mesinha de cabeceira deteriorada, em madeira, e uma cama, onde se destacava uma forma claramente humana por baixo dos cobertores. No topo da mesinha, uma vela já quase extinta escorria a sua cera pelo tampo poeirento. Ao lado dessa vela, repousava-se um hitai-ate. O símbolo de Iwagakure reluziu tranquilamente à luz do luar.
Vá, agora com calma…Lentamente, o vulto permitiu que a sua mão afastasse os cobertores da cabeça de quem quer que se encontrasse lá em baixo. No entanto, nem sequer teve tempo de observar com atenção a cabeça do indivíduo que lá se encontrava: no preciso momento em que lhe destapou a cabeça, o indivíduo que até agora estivera deitado impulsionou as suas mãos contra o invasor, prendendo o mesmo no chão pelo pescoço.
-Achavas que era assim tão fácil matares-me, é? – Rosnou o indivíduo da vila da Pedra baixinho, algo descontrolado. – Achas que eu já não estava à espera, depois de todos os outros embaixadores que já foram mortos aqui?
O vulto limitou-se a sorrir tenuemente.
-És interessante. – Começou o vulto, deixando o embaixador levemente surpreendido. – Honestamente, não gosto quando vocês se limitam a ficar deitados, à espera que a vida vos abandone… Dá-me muito mais gozo quando resistem.
Num movimento fluído e inesperado o vulto libertou-se do embaixador, trocando as posições de ambos de modo a que pudesse ficar no todo.
-Mas mesmo assim, não és nada de especial. Mais uma mera marioneta que provavelmente nem um
Bunshin consegue fazer, não é verdade?
Completamente fora de si, os olhos do embaixador deixavam transparecer medo.
-Afinal o que é que tu queres?
Mais uma vez nessa noite, o vulto sorriu. Não respondeu imediatamente, deixando o silêncio abraçá-los a ambos enquanto retirava uma kunai da sua bolsa de armamento básico. Ainda antes de falar, deixou a sua língua percorrer o seu lábio inferior.
-Vingança.
O silêncio da noite foi cortado selvaticamente pela lâmina da kunai quando esta foi erguida rapidamente acima da cabeça do vulto. Um segundo assobio, provocado pela lâmina da arma a cortar o ar, fez-se ouvir na noite, enquanto a lâmina percorria o seu caminho numa trajectória descendente…
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Os filler que a Ikara e eu postarmos é em conjunto! Pois estamos a fazer uma história em conjunto....
Espero que gostem!
A'shteru FRANCESINHA