Sasunari entreabriu os olhos lentamente, sentindo-se mais desperta do que seria normal em alguém que acabara de acordar. Prescrutou o quarto onde se encontrava por momentos, mas rapidamente desistiu da sua busca instintiva. Ainda com a mesma expressão entristecida que se apoderara do seu rosto nos últimos dias, levantou-se de modo a ficar sentada na borda da cama, tendo o cuidado de arrastar os finos lençóis que encimavam o colchão para cobrir o seu tórax despido. Ainda com expressão ausente, de olhar perdido no vazio, suspirava sem dar conta. Levantou os olhos para a janela alta à sua frente, observando o horizonte para lá dela, horizonte esse a que ainda não se tinha habituado. Por norma, a sua primeira reacção teria sido levantar-se da cama, envolver o seu corpo no lençol e dar uma olhadela pelas restantes divisões da casa desconhecida. Mas já há dois dias que seguira essa rotina, e já há dois dias que continuava sem ter sinais de Kohaku.
Sem grande entusiasmo, a jovem levantou-se e procurou pelas roupas pousadas aos pés da cama. Há sensivelmente três dias atrás, depois de ter recuperado as chaves de sua casa, Kohaku havia pedido a Sasunari que se mudasse para a casa dele. Eventualmente Sasunari acabara por concordar: não só poderia passar mais tempo com ele como também se poderia afastar das memórias dolorosas que a sua casa (a antiga casa do seu sensei falecido) lhe trazia dia após dia. O primeiro dia havia passado normalmente, dentro dos possíveis e da abnormalidade da situação. A primeira noite revelou-se extremamente gélida e severa: muito mais gélida e severa do que na sua antiga habitação. No entanto, nada que o abraço apertado de Kohaku não pudesse resolver. A manhã que se seguiu a essa noite, no entanto, revelou-se como o início de mais uma fase negra na vida da jovem.
Na primeira manhã em casa de Kohaku, Sasunari acordou sozinha. De início não se apercebeu de tal facto. Apesar de não tocar o rapaz, conseguia percepcionar o calor dele por entre os lençóis. Apenas quanto tentou alcançá-lo e se deparou com a almofada dele, vazia e morna, se apercebeu de que ele já não se encontrava lá. Alarmada, a rapariga percorreu todas as divisões da casa em busca de Kohaku ou de um sinal dele. Ao não encontrá-lo, passou todo o dia a percorrer tudo o que era sítio em Konoha, e mesmo assim nem sinal de Kohaku. E o mesmo se passou no dia seguinte. Era como se o rapaz se tivesse simplesmente evaporado sem deixar qualquer tipo de traço para trás.
Depois desses dois dias e já completamente conformada com o facto de que ele não iria aparecer nem deixar-lhe qualquer tipo de explicação como conforto, Sasunari voltara a afundar-se no mundo apático em que vivia sempre que se encontrava sozinha. Não conseguia parar de se preocupar, de se perguntar sobre o porquê da partida súbita do seu amado, do motivo pelo qual nem sequer uma nota ele deixara para trás. O que lhe teria acontecido? Envolta nas suas dúvidas e inseguranças, Sasunari acabou de colocar as suas roupas sobre o corpo. Sentiu o frio da madrugada ainda escura afectá-la, causando-lhe um arrepio que lhe provocou pele de galinha. Começava a arrepender-se pelos enormes espaços que as suas roupas deixavam a descoberto.
Colocando uma capa beje sobre os ombros, Sasunari percorreu o caminho até ao hall de entrada. Lá, perdida entre alguns móveis, encontrava-se já a sua mochila, preparada com tudo aquilo de que necessitava para a missão com Seikou. Custava a crer que o tempo tivesse passado tão rapidamente, e ainda assim…
Com um suspiro pesaroso, Sasunari procurou por algo nos bolsos laterais da sua mochila. Quando as suas mão encontraram o espaço vazio do tecido àspero, franziu uma sobrancelha. Revirou todas as outras bolsas laterais e o próprio conteúdo da bolsa principal da mochila, remecheu o interior da capa que colocara há pouco e até revistara a sua bolsa de armamento básico. Nada. Como é que se pudera esquecer dos comprimidos em sua casa? Por sorte das sortes não havia precisado deles nos últimos dias…
Com um ruído frustrado e enfurecido, largou a alça da mochila com alguma violência sobre o seu ombro e saiu da casa de Kohaku, batendo com a porta pesadamente atrás de si.
Já no exterior, o ar ainda frio da vila enregelou-lhe os pulmões, consumindo o seu corpo por completo e fazendo-a sentir-se ligeiramente zonza. Não estava nada habituada a frios tão intensos, e senti-los naquele momento fazia com que se sentisse ainda pior.
Ergueu o rosto e olhou brevemente para o céu. Ao longe, uma sombra negra aproximava-se. Uma massa de nuvens escuras que se abeirava da vila, trazendo consigo a ameaça eminente de um temporal.
-Hmm... Vem aí tempestade. - Concluiu Sasunari para si própria com voz baixa, nem sequer se apercebendo do significado profundo que estas suas palavras iriam adquirir nas próximas semanas.
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[Ka~hem… Como disse há uns tempinhos, vou começar a dividir mais os meus fillers. Só para ver se consigo torná-los mais pequenos e menos maçadores x’3
Também acrescentei uma linha em branco entre parágrafos, para tornar a leitura mais fácil e limpa. Se resultar avise xDDD
Vou tentar postar a continuação amanhã (já tenho parte dela escrita, inicialmente iria postá-la juntamente com esta…), mas não prometo nada. Já sabem como é x’P
Boa continuação, e obrigado por lerem :’D]